Crescem Espinhos no Jardim dos Cravos
Meio século após o 25 de abril, a nossa jornada de afirmação democrática oferece hoje um intricado mosaico de matizes e desafios coletivos. Um cubo de Rubik (que também faz 50 anos) político, onde diferentes tonalidades políticas e agendas se entrelaçam ao ritmo das transformações económicas, sociais e internacionais.
O 25 de abril evoca um tempo de receios e conquistas, um período marcado pelos espinhos e cravos da nossa história. Nesta celebração, revisitamos não apenas as vitórias alcançadas, mas também os desafios que persistem, moldados pela política internacional e pelo contexto europeu em constante evolução.
A integração de Portugal na União Europeia traz consigo uma miríade de desafios e inquietações. No centro das preocupações está a questão da guerra – às portas do espaço europeu, um lembrete contundente do propósito original do 25 de abril em promover a paz. O futuro do projeto europeu está em interrogação, especialmente diante do dilema do alargamento e das tensões geopolíticas.
Além disso, a política de defesa e a coesão interna da UE emergem como temas prementes. O financiamento e a estruturação de uma política de defesa comum lançam muitas questões sobre o equilíbrio entre os diferentes pilares da União. A que acrescem o novo impulso do Mercado único (Relatório recente de Enrico Letta) e a resposta da política de Coesão (9.º Relatório da Coesão). Enquanto isso, a união entre os Estados membros continua a ser uma prioridade, no caminho de redução das disparidades regionais.
À medida que nos aproximamos das eleições europeias (9 de junho em Portugal), os desafios intensificam-se. O surgimento de partidos antissistema e eurocéticos ameaça desestabilizar o equilíbrio político da UE, representando um espinho significativo no caminho rumo ao reforço democrático.
Em novembro próximo podemos ter outro espinho a brotar no jardim do atlântico. As eleições norte-americanas significam uma verdadeira ameaça para as organizações europeias e internacionais, como a NATO, e um ressurgir de um retrocesso sério ao multilaterialismo, à cooperação internacional e, acima de tudo, à Democracia.
No entanto, mesmo diante destes desafios, o espírito do 25 de abril permanece vivo. A democracia continua a ser o pilar fundamental da nossa sociedade, permitindo o debate e a resolução de posições divergentes. Devemos encarar os espinhos que brotam no Jardim dos Cravos com determinação e compromisso, defendendo os valores da liberdade, do pensamento livre e da educação democrática.
Assim, enquanto celebramos meio século da nossa Revolução, reafirmamos o nosso compromisso inabalável com a democracia. Que o jardim onde nascem os cravos da liberdade floresça eternamente, lembrando-nos do caminho percorrido e dos desafios que ainda enfrentamos, com a convicção de que juntos, podemos superá-los. Viva o 25 de abril! Viva a Democracia!
Opinião | Tiago Teotónio Pereira
Ilustração | Susa Monteiro (arquivo)
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